
Quem sabe, estou abusando. Mas o caro leitor não sentirá dificuldades em acompanhar o raciocínio dos teólogos. O que significa a expressão “Filha de Sião”? No seu sentido original se refere a uma parte da cidade de Jerusalém, onde moravam os pobres. No meio da vacilação geral sobre as promessas messiânicas, acarretada pelo exílio babilônico, e pelo aparente fracasso da profecia davídica, essa população dos “anawim” (pobres), era portadora das esperanças de Israel. Era o “pequeno resto”, que mantinha as esperanças. Maria foi a herdeira e representante do povo eleito. A representação abstrata de Sião, nela se personifica. Se os filhos de Abraão não percebem a presença do Messias, para nele crer, Maria se torna o lugar da residência divina. Ela deixa de ser apenas uma pessoa isolada, para tornar-se uma entidade coletiva, que acolhe numa fé profunda, as promessas divinas de salvação. Ela porta, verdadeiramente, em sua pessoa concreta, o destino do povo eleito, mesmo se em algumas ocasiões se tenha reduzido a um pequeno grupo. A Mãe do Messias não é uma simples componente da Igreja. Mas todo o mistério do povo de Deus se encontra nela, e tem nela a sua expressão eminente. Ela é a continuação da comunidade vetero-testamentária. Por meio de Maria, Sião deu à luz um povo novo. “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 33) é a maternidade perpétua, e a continuidade da Filha de Sião.
Dom Aloísio Roque Oppermann scj
Arcebispo emérito de Uberaba, MG